domingo, 11 de julho de 2010

Madrugadas afora

Sim, eu tento dormir cedo. Prometo isso Negritoa mim sempre quando acordo e me deparo com o relógio pontuando 14hs. E quando vou me deitar, junto aos primeiros raios de sol, que entram pela janela de cortinas finas e claras e iluminam meu quarto de vida e cor, eu realmente acredito que, na próxima noite, dormirei. E estarei despertando na manhã seguinte com o sol, que certamente a frágil cortina não barrará. Mas a quem eu quero enganar?
Há tempos, tento entender o fascínio que a madrugada exerce sobre mim. É arrebatador! Faz o sono parecer a coisa mais rara e anormal do planeta. E não é dificil perceber o porquê. Adoro a noite! Adoro o céu escuro, estrelas, a brisa mais fria que entra pelos cantos da porta, a sombra dos móveis projetada pela luz, a cidade deserta que vejo da janela e o aroma úmido e inexpressivo do meu apartamento madrugada afora.
Adoro a escuridão! Apagar todas as luzes quando como num consenso, a maior parte da cidade resolve apagar também. Sentir os olhos se acostumarem com a escuridão, que muitas vezes parece densa, e aos poucos, voltar a distinguir as formas à minha volta. E perceber os pontinhos de luz da tv, do carregador, do modem, tão fracos durante o dia, mas que brilham sua iponência durante a noite sombria, quando os grandes iluminados repousam e não podem lhes ofuscar. A noite é deles! Eles reinam. Facilmente são vistos, facilmente incomodam e facilmente criam sombras, que mentes criativas transformam em vultos. Eu nunca temi o escuro!
Adoro o silêncio! Ou melhor, adoro o som do silêncio. O zumbido baixo que se ouve em toda parte, o peso, o pingar de uma gota na cozinha, o som errante de um carro solitário passando ao longe, o ranger dos móveis, a minha respiração. Sons que raramente percebemos durante o dia: a tv ligada no volume mínimo, e ainda assim escutada com clareza; o som do vento, a respiração da cidade. Como o som do silêncio é bom! Madrugada afora, um zumbido de mosquito é um auto-falante. Um avião, tão longe no alto, vira um trovão e, cada passo, uma batida de tambor. Eles reinam.
Por fim, adoro esta percepção dos pequenos! Pequenas luzes, pequenos sons, odores suaves, vazio... É como se o mundo se desligasse por algumas horas só pra mim, só pra que eu pudesse enxergar todas essas coisas e brincar de tentar ouvir o bater do meu coração, de ficar fechando os olhos cada vez mais e ver até que ponto a luzinha da tv penetra minhas pálpebras. Olho da janela e vejo o mundo. Enorme. É só meu! Naquele momento, eu sou como o zumbido, como o ponto de luz fraca. Naquele momento eu aqui, tão pequenina num mundão sem limites. Eu, tão comum... mas naquele momento, eu reino! E o que vejo da janela é o cenário da minha vida. Ao longe várias locações que eu ainda posso explorar. Tudo vazio pra minha análise e compreensão de espaço. Tudo meu. Logo de manhã, porém, os cenários se inundarão de personagens e figurantes pra compor a minha história, que seguirá os rumos idealizados por mim ainda na madrugada, antes do expediente começar, enquanto o mundo aguarda em silêncio que eu decida o roteiro. Enquanto os grandes repousam, eu curto cada segndo desse reinado. Conspiro com o vento rumos inimagináveis pra história, guinadas, inesperadas e grandiosas: planos para dominar o mundo! Mas a madrugada é muito curta, e, antes que consigamos decidir o clímax da história, começo a perceber o som mais alto do tráfego lá fora. Vejo que a luzinha da tv não brilha mais com tanto vigor, pois a escuridão lá fora se dissípa, e o cheiro de café do apartamento ao lado acaba com o odor neutro da madrugada. E junto com raiar do dia me vem o sono... E todos os planos secretos são adiados pra próxima madrugada de conspirações. Pouco antes de dormir, já de olhos fechados e sentindo a claridade no rosto, eu repito a promessa: na próxima noite dormirei cedo, pra acordar logo pela manhã no dia seguinte. Assim, talvez, eu deixe de ser a roteirista e me torne a protagonista da minha história. Aquela que pega expediente logo cedo com demais personagens e figurantes, e deixa que os caminhos se decidam por força maior enquanto ela repousa e sonha, madrugada afora...

5 comentários:

  1. ESCREVEU MUITO BEM MIN, EXATAMENTE O REINO QUE VOCE POSSUI TODA NOITE, TE AMO MOCINHA, BJAAO

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  2. Oii...
    Bom o texto!
    Vai ver vc fio feita para a boemia..rs..ou entao eh só uma quetao de costumes, dormir cedo-acordar cedo...
    Mas quanto ao som do silêncio, émuito bom mesmo, relaxante, consolador!
    Enfim, é isso, virei sua seguidora tb!rs
    Obrigada pelo elogio...

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  3. detalhe: horário de publicação do texto: 00:29
    rs

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