Certa vez, quando criança, fui presenteada com um livro chamado "Gratidão". Enquanto devorava rapidamente as trinta páginas, eu não podia imaginar as sérias conseqüências que a singela leitura acarretaria. O livro consistia na pergunta "O que é gratidão?", seguida por dezoito respostas ilustradas, dentre elas: "Aquilo que você sente quando toma um banho de mangueira num dia de muito calor" e "Sentimento por ter um amigo que sempre guarda seus segredos". Ao fechar o livro, um mar de respostas se abriu em minha pobre mente infantil. Repentinamente descobri, que o que eu sentia ao comer jabuticabas sentada na árvore, ou ao ficar horas lendo gibis em um dia chuvoso, nada mais era do que gratidão. Apenas gratidão! Uma pergunta insistente latejava em minha cabeça: "Se isto é gratidão, então o que é a...?". Foi neste exato momento, que iniciou-se a minha longa jornada em busca da tão falada e desconhecida felicidade.Eu cresci como tantas outras pessoas, achando que a felicidade é algo grandioso, que deve ser buscado e encontrado a qualquer custo. Esperando o grande sinal, o grande momento inesquecível, onde enfim poderia dizer: Sou feliz! Confesso que por vezes, tomada por imensa alegria, pensei que este momento havia enfim chegado. Mas algum tempo depois, sempre percebia que não passara de um engano, ainda não era a felicidade, pois a alegria sempre passava. Então retomava minha espera por ela, que é a grande sintonia do Universo conspirando ao seu favor, onde tudo da certo: o sucesso te ronda, a carreira decola e o esmalte nunca descasca. Até que um belo dia, eu me cansei de esperar.
Me rendi aos prazeres do morango com Nutella. Descobri que além de somar centímetros a minha circunferência abdominal, esta divina combinação tinha o estranho poder de me fazer feliz. Por algum tempo eu tinha em minhas mãos a tão procurada alegria eufórica, que só se extinguia minutos após a constatação de que o pote do fantástico creme de avelã, que não contém glúten, estava absolutamente vazio. Eis a fórmula secreta da minha felicidade, que vem em copos decorados, vendidos nos melhores supermercados. Que começa quando compro, se prolonga por todo o saborear, e termina com a última lambida de dedos. Como tudo na vida, com começo, meio e fim.
Não há dor ou alegria que dure pra sempre, então anime-se: Se está sofrendo, vai passar. Mas se está perfeito, vai passar também e outros tantos momentos perfeitos virão. Passaram-se os anos, procurei e esperei, mas foi um pote de Nutella acompanhada por suculentos morangos que enfim me fizeram enxergar, que a felicidade está nas pequenas coisas da vida. Desmistifiquei o meu livro de infância, pois não importa o título. Pra mim, o que enche aquelas páginas com belas ilustrações, são descrições da real felicidade, que está sempre presente. Quando alguém nos arranca um sorriso, ou quando nos maravilhamos com o céu noturno, estamos sendo felizes por um momento. Colecionando momentos como estes, estaremos sempre felizes. Isso, e apenas isso é a felicidade pra mim. Mas se eu estiver errada, e tudo isso não passar de “Gratidão”, quero dizer então: Obrigada! Obrigada pelos dias ensolarados de piqueniques no parque, pelos amigos e pelas madrugadas afora em companhia deles. Pelas conversas insanas nos camarins de teatro e pelos tantos planos para dominar o mundo. Obrigada pelos banhos de chuva, pelas confidências trocadas com a lua e as noites de fuga no terraço do prédio. Pelas corridas noturnas com o vento frio lambendo o rosto, pelo som do silêncio e pelo som dos aplausos rompendo o silêncio quando as luzes se apagam. Serei eternamente grata!





a mim sempre quando acordo e me deparo com o relógio pontuando 14hs. E quando vou me deitar, junto aos primeiros raios de sol, que entram pela janela de cortinas finas e claras e iluminam meu quarto de vida e cor, eu realmente acredito que, na próxima noite, dormirei. E estarei despertando na manhã seguinte com o sol, que certamente a frágil cortina não barrará. Mas a quem eu quero enganar?